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Gestos criminosos: Quando a Comunicação Pode Ferir ou Alimentar Ódios.

Em um mundo cada vez mais interconectado, pequenos gestos e palavras podem carregar significados profundos e imprevisíveis. O recente episódio envolvendo Elon Musk, em que um gesto seu foi interpretado como uma saudação nazista, nos convida a refletir sobre o poder das expressões públicas e os riscos de sua interpretação, especialmente quando essas expressões podem reavivar dores históricas ou alimentar discursos de ódio.


Gesto Criminoso: Elon Musk faz apologia ao Nazismo?
O Gesto de Elon Musk foi interpretado como uma referência ao Nazismo.

Durante um discurso, Musk realizou um movimento com o braço que rapidamente foi associado a um símbolo de regimes extremistas. Embora tenha negado qualquer intenção nesse sentido, as reações foram intensas, tanto no campo das críticas quanto das defesas. Como advogada, vejo neste caso um exemplo claro da delicada relação entre liberdade de expressão e responsabilidade.


A liberdade de expressão é um direito fundamental e inegociável, mas com ela vem a necessidade de responsabilidade. Gestos e palavras não existem no vácuo; carregam significados que podem variar conforme o contexto histórico, cultural e social. Quando uma figura pública utiliza um gesto que, mesmo sem intenção, pode remeter a períodos sombrios da humanidade, os impactos podem ser profundos e duradouros.


No Brasil, por exemplo, a Lei nº 7.716/1989 tipifica como crime a apologia ao nazismo ou a utilização de seus símbolos. Essa lei é respaldada pela própria Constituição, que classifica o racismo como crime inafiançável e imprescritível. Isso significa que o racismo pode ser julgado e sentenciado a qualquer momento, não importando quanto tempo já se passou desde a conduta Mais do que uma norma legal, essa legislação reforça nosso compromisso como sociedade em proteger a memória histórica e prevenir a banalização de ideologias que propagaram tanto sofrimento.


pagou com a vida sem saber que o gesto era usado por uma facção criminosa
Sinal de Marcos Vinícius Alves Gonçalves, de 20 anos, foi interpretado como referência a uma facção e foi morto por isso.

No cenário atual, marcado pela polarização e pela disseminação de desinformação, é essencial que figuras públicas e líderes compreendam o peso de suas ações. Pequenos gestos podem ser apropriados por grupos extremistas, que os utilizam como gestos criminosos de identificação, perpetuando ideologias que deveriam permanecer como capítulos dolorosos do passado, não como bandeiras do presente.


Como advogada, entendo que a comunicação jurídica, assim como qualquer forma de expressão pública, exige clareza, empatia e sensibilidade. Nosso papel vai além da atuação técnica; somos também responsáveis por promover diálogos que respeitem as diversas perspectivas, sem abrir mão da ética e da justiça.


Casos como esse nos mostram que a interpretação de gestos ou palavras não deve ser subestimada. No Direito, onde as normas coexistem com as realidades sociais, é nosso dever compreender os impactos dessas manifestações, não apenas do ponto de vista legal, mas também humano.


A justiça social começa com atos conscientes, que respeitam a diversidade e as cicatrizes históricas das comunidades. Ao nos comunicarmos, precisamos equilibrar a liberdade de expressão com a responsabilidade de não perpetuar divisões ou ferir memórias sensíveis.


No Direito e na vida, palavras e gestos têm um peso que não pode ser ignorado. Cada ação ou expressão deve ser carregada de clareza, respeito e empatia, para que possamos construir um mundo mais justo e inclusivo. Que saibamos usar nossa voz para promover entendimento, não conflitos, e que as lições do passado sirvam para guiar nossas escolhas no presente.



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