Saúde Mental: A Urgência de Prevenir Tragédias Evitáveis
- elennascimentoadv
- 23 de jan.
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Casos de violência extrema associados a transtornos psiquiátricos, como o ocorrido recentemente em Santa Catarina, em que uma jovem de 22 anos, em surto psicótico, foi acusada de matar a própria irmã de 4 anos, nos fazem refletir sobre um tema urgente e delicado: a necessidade de cuidados adequados com a saúde mental.
A tragédia ilustra como a falta de diagnóstico precoce e de acompanhamento psiquiátrico contínuo pode levar a situações irreversíveis, impactando não apenas os envolvidos diretamente, mas toda a comunidade ao redor.
Transtornos mentais, como psicoses, depressão severa e transtornos de personalidade, não são simplesmente questões individuais; são problemas de saúde pública. Episódios graves de descompensação, como surtos psicóticos, frequentemente não ocorrem de forma isolada. Há sinais prévios, como isolamento social, comportamentos atípicos ou até verbalizações que indicam sofrimento emocional intenso.

Neste caso, foi relatado que a jovem apresentava sinais de isolamento nos dias que antecederam o crime. Tais sinais deveriam ter servido como um alerta para familiares e profissionais de saúde.
O diagnóstico precoce e o tratamento adequado de transtornos psiquiátricos podem prevenir eventos trágicos. No entanto, há uma barreira cultural que dificulta esse cuidado: o estigma. Muitas vezes, problemas de saúde mental são banalizados ou negligenciados, sendo interpretados como "fraqueza" ou "falta de vontade", o que retarda o acesso ao cuidado necessário.
A legislação brasileira prevê mecanismos para proteger pessoas em sofrimento mental e a sociedade, como a internação involuntária (Lei nº 10.216/2001). Entretanto, a internação deve ser vista como uma medida extrema, destinada a casos em que a pessoa representa risco para si ou para os outros. O foco deve estar na prevenção e no acesso contínuo a serviços de saúde mental de qualidade, reduzindo a necessidade de intervenções drásticas.
No caso de Santa Catarina, a Justiça determinou a internação compulsória da jovem até que um novo laudo médico indique que ela não representa mais risco. Essa decisão, embora necessária no contexto, nos lembra da urgência de evitar que situações cheguem a esse ponto.
Como advogada e defensora dos direitos humanos, vejo nesses casos uma oportunidade para reforçar a importância da conscientização sobre saúde mental. É necessário promover o diálogo sobre o tema, combater o estigma e garantir que políticas públicas sejam eficazes na detecção e tratamento de transtornos psiquiátricos.
A negligência, seja por desconhecimento ou preconceito, não pode mais ser tolerada. É imprescindível que famílias, comunidades e o sistema de saúde trabalhem juntos para identificar sinais de alerta e oferecer suporte antes que a situação se agrave.
Casos como o de Santa Catarina não devem ser vistos apenas como tragédias isoladas, mas como alertas para uma sociedade que ainda negligencia o cuidado com a saúde mental. A responsabilidade é de todos: do sistema de saúde, do Poder Público e de cada um de nós como indivíduos.

Promover o acesso a cuidados psiquiátricos é uma questão de saúde, de segurança e de justiça. Afinal, cuidar da mente é cuidar da vida. Que este caso sirva como um chamado à ação para prevenir novas tragédias e proteger tanto aqueles que sofrem quanto suas famílias e a sociedade como um todo.
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